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Amigos vitais


O Dia do Amigo, comemorado ontem, serviu de motivo para brindes e
abraços por uma das relações afetivas mais importantes da vida –
inclusive vital. “Com tanta gente mudando de cidade ou núcleo social, os
amigos podem exercer um papel afetivo mais intenso que a família”, diz
Maria Elisabeth Cimenti, psicanalista da Sociedade Psicanalista de Porto
Alegre. Em sua avaliação, as relações de amizade contemporâneas são
intensas e diversas.

“É comum dizerem que hoje as relações são mais superficiais, mas talvez
não sejam. Há várias facetas de amizade. Estabelecemos uma relação
profunda de amizade com alguém em determinado momento, por certa
situação ou contexto, até emocional. Às vezes essa ligação passa, mas
foi um amigo importante. Há os amigos de infância, aqueles para um
chopp, o amigo de café da tarde, aquele pra passeio o de todas ocasiões,
e aquele que te ampara em uma situação mais difícil. Somo muito amigos
uns dos outros, mas de maneiras mais diversas”, diz.

Mesmo com tantos benefícios e nobres cargas emocionais, a amizade às
vezes parece faltar, o que pode ser mortal. “Muitas pessoas chegam em um
estágio que não conseguem mais se comunicar e falar de sua realidade para
ninguém, mesmo estando rodeado de gente”, diz Magda dos Santos,
voluntária e vice coordenadora do posto do Centro de Valorização da Vida
de Porto Alegre, existente há 41 anos. Na instituição 40 voluntários se
dividem em turnos para atender durante 24 horas pessoas que querem
conversar por telefone, chat ou email. “Se conseguimos evitar uma morte,
salvar uma vida, todo trabalho valeu a pena. Muitas vezes já passei por
épocas que não encontrava voz e ouvidos. Os atendentes do CVV conhecem
da solidão. Basicamente ouvimos o que nos é dito e devolvemos o que a
pessoa narrou. Geralmente ela tem o panorama e situação em mente, mas as
cenas e emoções estão em uma avalanche. Ajudamos a organizar, apenas
ouvindo, sem julgar”, diz Magda. Ela esclarece que o público é formado,
por exemplo, por adolescentes, que preferem o chat, ou idosos que
contatam por telefone de madrugada. “Adolescentes que se sentem
perseguidos e excluídos ou idosos que dizem já não servir para nada nem
são ouvidos. Lhe tratamos com compreensão e muita vezes sabemos que só
isso melhora muito”.

Outro grupo de amigos solidário existe pelos Alcoólicos Anônimos, que
recebe em reuniões abertas qualquer pessoa que deseja parar de beber.
“Somos amigos de mãos dadas com a vida. Quem nos procura, encontrará uma
mão companheira para se agarrar à vida. Quando eu cheguei, havia gente
para me receber sem qualquer restrição, assim como faço com outras
pessoas. Com o tempo algumas relações de amizade cotidiana se
fortalecem”, diz uma membro do AA de Porto Alegre. O AA chegou no Estado
há 42 anos e está presente em todas cidades. Os locais e horários das
reuniões estão na página www.aars.org.br ou pelo 3226-0618.

{“O bebedor de absinto”.  Quadro de Picasso que retrata o amigo Angel Fernandez de Soto}