
As cartas de Caio F.
No mesmo período em que completa dez anos de criação, o monólogo
“Caio F”, de Sílvia Ramos, terá uma das últimas apresentações da montagem na forma tradicional, criada a partir de cartas de Caio Fernando de Abreu remetidas de São Paulo para Luciano Alabarse, em Porto Alegre entre os anos 80 e 90. Na próxima quarta-feira, 28, Sílvia vivencia o escritor no palco do auditório do CATI (Centro de Atendimento Integral)
da Fundação Pão dos Pobres, na Capital, com a mesma intenção
original: mostrar o Caio mais reflexivo com as coisas da vida do que
propriamente as vivendo – e com a mesma lucidez e amor de sempre, em suas palavras. “Era
dessa forma, postura, que ele se se conduzia comigo, uma forma parecida
com a que ele se conduzia com Alabarse”, ela conta.
Foi o que percebeu quando se deparou com um trecho de carta que ele escreveu ao amigo, a
primeira assim que saiu de Porto Alegre. São as frases que encerram o
espetáculo, sem cenário. No palco, por enquanto, é Sílvia, velas, algumas flores e orvalhos de palavras.”Muitas vezes o Caio é apresentado com mais dramaticidade corporal.
Eu sempre trabalhei muito o texto nessa peça, deixando amplo espaço
apenas para as palavras. Como a dar um caminho a elas,
preferencialmente”, comenta, completando: “Agora que o texto está amadurecido em mim, sinto que
posso revitalizar esse processo aplicando outras técnicas”.
Nesse caminho, Sílvia firmou parceria com Paulinho Azevedo, que hoje finaliza o documentário “Al Polonio Déjalo Ser”, sobre o vilarejo uruguaio Cabo Polonio. Isso pressupõe mudanças nas apresentações
futuras. “Por circunstâncias, de o trabalho ter sido desenvolvido de
forma mais lenta, no meu tempo de então, era difícil alguém me
acompanhar. Agora a visão da direção minha será alterada para a visão de
um diretor de cinema. Estamos também investigando outras formas de se
filmar o teatro”, afirma.
O primeiro monólogo que Sílvia fez em sua carreira, e o
único, além de Caio F., foi “Fruta Aberta”, baseada em poesias de Tiago
de Melo. “Caio F” estreou no Theatro São Pedro em abril de 2002, no
projeto “Retomando a Palavra”.
Nas cartas Caio reflexiona sobre seu trabalho, seja jornalismo ou
literatura, entre outros temas. Questiona a criação, curioso que o ato de escrever possa
“rebentar o corpo da gente”; interpreta o contexto onde sua obra se
realiza e repercute; constata a ameaça da Aids, que chega trazendo
mudanças no comportamento pessoal e coletivo, uma “paranóia solta na
cidade”. Ele confessa: “Cada vez gosto mais da luz, cada vez acho a
alegria e o prazer mais importantes”, nos exemplifica Silvia.
O material da peça é uma pequena parte das 40 correspondências que
Sílvia recebeu de Alabarse como suas por direito.“Iniciar a seleção
do que iria para o palco foi terrível, porque tudo era muito bom. O Rafael
Baião prestou auxílio para cortamos cenas. De uma hora e meia ficamos
com 50 minutos”, lembra. Sílvia conheceu Caio quando foi entrevistada
por ele para uma matéria no Folha da Manhã, da Caldas Júnior, no final
dos anos 70.
Ano passado “Caio F.” foi apresentada na Usina do
Gasômetro e no Ocidente, em Porto Alegre. Agora a artista prepara-se para levar
a peça para São Paulo em 2013. Ela atua desde 1975 no teatro gaúcho, como atriz, mas logo
se ampliando pela direção, teatro de bonecos, formação de grupos de
teatro descentralizado, apresentação e oficinas – de teatro de bonecos –
nas periferias. Além de direções e preparação de elenco, Sílvia também
trabalha constantemente com grupos e alunos desenvolvendo consciência,
expressão corporal, criatividade e expressividade, para diferentes
públicos.
Também fez trabalhos dirigidos à questão ambiental através do
teatro. Pela ordem da carreira: estreou com a “A Macaca Esquecida”,
texto do jornalista Caco Barcellos, foi dirigida por Luciano Alabarse,
Paulo Flores e Irene Brietzke. Atuou na montagem de Dilmar Messias do
texto “Calabar”, de Chico Buarque; e em a “divina Proporção, de Paulo
Flores. Interpretou e se auto dirigiu em “Ou Isto ou Aquilo”, de Cecília
Meireles, “A Fruta Aberta”, baseada em poesias de Tiago de Melo e “Não
me viu, se me viu”, de autoria própria.
Teatro: “Caio F”, com Silvia Ramos
Auditório do CATI da Fundação Pão dos Pobres
Quarta-feira, 28 de novembro, 21h
R$ 20,00 e R$ 10 para estudantes e sênior
Estacionamento gratuito
Apresentação única
Foto Fábio Zambon. Texto de Divulgação.
