
Uma ditadura no caminho
A ditadura ocupou o caminho das Andradas em frente à Praça da Alfândega ontem à tarde, durante o 1º Festival de Teatro de Rua de Porto Alegre. Estado Novo, Constituinte, golpe de 64, resistência, AI 5, os anos de chumbo, luta armada, perseguição e morte foram algumas das cenas apresentadas pela Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz ao dramatizar a vida do revolucionário Carlos Marighella.

O povo que passa se aglomera para ver Marighella resistir à prisão após o golpe de 64, receber um tiro no peito no cinema da Tijuca e ser levado pelos militares. Libertado, vive os anos de chumbo e lidera enfrentamento armado contra os ditadores. Seus companheiros são torturados e um deles é obrigado a marcar encontro com o líder. Foi na Alameda Casa Branca, morto a tiros o Carlos Marighella.
Para o público, entendimentos distintos. ‘Os anos de chumbo foram recentes, mas parecem esquecidos. A nova geração chega a aprender que Marighella foi terrorista’, diz Paulo Flores, responsável pelo grupo que vem resgatando heróis populares como Antônio Conselheiro. No final, pedaços de papel saem voando de um arquivo, com nomes de pessoas desaparecidas na ditadura. Fantasmas que as famílias não viram os corpos. ‘São centenas de pessoas. Nunca teremos democracia plena sem esclarecer o passado’, diz Flores.
A dramaturgia foi criada a partir de poemas de Marighella. ‘É preciso não ter medo, é preciso ter coragem de dizer’, e o festival continua, com a tribo atuando hoje na Restinga, às 15h30min, e no domingo, no Brique da Redenção, às 16h.
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[Foto Mateus Bruxel. Publicado em 25 de abril de 2009].

