jornais

As redações de jornais impressos foram meu berço e palcos dos maiores e melhores aprendizados e vivências. A dinâmica, vidas, cheiro, produção e dia-a-dia são únicos, com personagens e situações/realidades sempre inesperados. Um tempo onde a reportagem, informação e credibilidade eram valores ainda inerentes à nossa busca por horizontes diários. Aqui, um compilado com poucas matérias bravamente resgatas na arte dos impressos na época. Correio do Povo (RS), Notícias do Dia (SC), Jornal Bom Dia (RS).


Notícias do Dia –Jornal Diário Impresso SC

            Do jornal Correio do Povo, em Porto Alegre, em passagem por Florianópolis, voltei a viver na Ilha da Magia para mais um período de redação diária, cobrindo especialmente Arte e Cultura no Caderno Plural e matérias especiais da do Jornal Notícias do Dia, do grupo Record. Uma alegria voltar a morar na Ilha do Desterro, onde me formei no Segundo Grau (hoje Ensino Médio) e Jornalismo, ambos na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Residi por quase 10 anos na Ilha, deixando a juventude e assumindo as responsabilidades de escolhas, e voltei quase 10 anos depois, em um resgate confortante. Subir diariamente para o Morro da Cruz, no alto do Centro da Ilha. Circundar ela com histórias, artistas, eventos, comunidade. Foi minha despedida das redações de diários impressos, mais um período que guardo com carinho entre meus fazeres. Uma redação de jornal é sempre algo a flor da pele, sempre grande aprendizado.

Correio do Povo – Jornal Diário Impresso RS

         Correio do Povo, Porto Alegre, RS. Uma redação icônica com dinossauros do jornalismo, onde estive por mais de quatro anos. Uma redação histórica e marcante a todos quer tiveram o privilégio de viver antes das redes sociais. Me permitiu amar Porto Alegre e toda sua efervescência cotidiana e cultural. Experiências e aprendizados intensos com profissionais dinossauros ao lado.  Especializada em cobrir cultura para o caderno Arte e Agenda (shows, teatro, feiras de livros, bienais, artes plásticas), era repórter especial de cadernos como Viagem, cobria o Fronteiras do Pensamento, Encontros com Professor, Expointer, e desenvolvia reportagens especiais para a Geral. Em um dia cobria a Bienal do Mercosul ou show de Milton Nascimento, e no outro reportava o comércio e gestão de resíduos na Capital. Em um dia pauta com o governador afirmando investimentos da Saúde, e no mesmo dia, pauta com a mãe que precisa medicalizar o filho para ele ficar “calmo” em casa, e ela possa trabalhar fora catando resíduos, porque se levar eles junto, perde as crianças.

Jornal Bom Dia – Jornal Diário Impresso RS

              Iniciei no Jornal Bom Dia para trabalhar desde o lançamento do impresso diário em Erechim, cidade pólo da região do Alto Uruguai gaúcho. Entre as dificuldades de reportar diariamente uma região do interior do Estado numa redação enxuta e jornal novo, encontrava liberdade para desenvolver pautas atípicas, como entrevistar taxista, carteiro, sapateiro, garçom, me importar com a falta de vagalumes, ser a Mamãe Noel em um especial com crianças atendidas por instituições de apoio infantil, aceitar voar de monomotor num sábado de manhã de folga para fazer a foto aérea de uma feira local, pedir a um morador de cobertura ao lado do presídio autorização para subir e conseguir uma foto do pátio em rebelião, fazer um especial como cada bloco de carnaval da cidade, falar com idosos sobre o dia das crianças. Abordar temas ainda não muito divulgados na época, no interior, como alcoolismo, gravidez na adolescência, violência contra mulheres em ambientes rurais. Fazia trabalhos de repórter, editora, fotógrafa e pauteira. Todos dias. Bons tempos, bons dias.

Jornal Zero – UFSC

         O primeiro jornal da minha vida, como não celebrar? O Jornal Zero é uma  produção do curso de Jornalismo da UFSC, o melhor laboratório de redação que eu poderia ter na vida. Editado pelo professor Ricardo Barreto, com manchetes e títulos intencionalmente provocativos perante poderes públicos. Trabalhávamos com do Dreamweaver, inclusive, e participei da primeira edição com capa colorida, um luxo histórico. Uma das lições intrínsecas de nosso mestre, que já havia trabalhado na ditadura: um repórter está para manter a democracia e direitos humanos, não para agradar a todos. Um salve aos colegas, às longas reuniões de pautas no bar ao lado, madrugadas memoráveis em fechamento, e inclusive distribuição do impresso pelos ônibus pela cidade. A partir dali a reportagem e escrita permaneceram comigo por todo caminho. Além do que, essa universidade me possibilitou o encontro com alguns dos melhores amigos da vida, que eu trago até hoje. Salve, Zero, Salve, mestre Barreto.