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Rita Lee faz “ensaio geral” em Porto Alegre

Após abrir o show com “Luz de Fuego” Rita Lee explicou ao público a tônica da apresentação desta sexta-feira no Bourbon Country, em Porto Alegre: “vamos fazer um ensaio geral. Vai ter uma porrada de erro. Experimental. Eu gosto de erros pra caralho. Assistindo os patinadores no gelo, adoro quando um cai”.

No entanto, longe de ser um show primário, foi leve, bem produzido e talentosamente executado, repleto de clássicos e falatórios da cantora e compositora com ótimas tiradas. No telão ao fundo do palco, vídeos com imagens criadas especialmente para cada canção, como prédios brilhosos imersos em água borbulhantes na canção “Atlântica” ou um cenário sonâmbulo mágico com nuvens e estrelas, mescladas com sol laranja em “Insônia”.

Um dos pontos marcantes foi a participação do cover gaúcho do Michel Jackson, Nikki Goulart, interpretando “Man In The Mirror”. Rita contou que durante o intervalo de um show em Florianópolis, seu filho apontou que o Michael Jackson estava na platéia.

No final, pediu – e ganhou  – uma canjinha. “Daí nunca mais desgrudei. Se tivesse um concurso do melhor cover de Michael, ele ganhava fácil”. Outra homenageada no palco foi Gal Costa, quando ainda no início do show Rita vestiu uma peruca e um cachecol para cantar debochada e reverenciosamente “Baby”.

Passando por “Banho de Espuma” e “Chega Mais”, é na música “Doce Vampiro” que a platéia solta a voz e se entrega à baladinha. Em “Ovelha Negra”, fotos da cantora com parceiros, com os filhos, vídeos pessoais, em uma ligação de quem honra sua trajetória e consegue, aos 62 anos, cantar com verdade as canções dos 20 e poucos.

Do “Obrigado Não”, Rita fala mais uma vez do seu rejeito à obrigatoriedade do voto, tecendo comentários bem humorados e descambando os candidatos à presidência este ano. Dilma foi “boneco do carnaval de Olinda”; Serra virou “agente funerário”; Ciro Gomes, “uma bomba”, e Marina, “dá vontade de dar vitamina, arroz e feijão pra ela”.

Na volta do intervalo, o público ainda foi contemplado com músicas como “Escurinho no Cinema” e Roberto de Carvalho cantando duas canções do Roling Stones, para Rita fechar com “Venenosa”. Ao todo, praticamente duas horas de apresentação, com a Rainha do Rock brasileiro mostrando que cada vez está mais debochada, simpática, manhosa, crítica, e com muito prazer no que faz.

 Entrevista pré-show concedida em março de 2010. 

CP: Em muitas de suas composições, você aborda o ser feminino. O que é ser feminina?
Rita: Leda querida… as mulheres são multiversos, vários universos num só. Somos femininas, feministas, femealistas, sapatas, peruas, mocréias, burras, gênias, enfim…
 
CP: O que é |ser mais macho que muito homem|?
Rita: Em geral as fêmeas de todas as espécies suportam melhor as dores. Também damos porradas com carinho e beijamos segurando um punhal.
 
CP: Nelas, também rejeitas o amor submisso. A forma de amar das mulheres contemporâneas mudou?
Rita: Não rejeito o amor submisso, desde que seja o do namorado, hehehe… não sou uma mulher contemporânea pra saber a forma de amar delas, percebo que estão mais porretas mas não menos românticas.
 
CP: Você está com mais de 60 anos, como se relaciona em relação ao envelhecer e à juventude? Concordas com a bonita frase do Picasso |É preciso de muito tempo para se tornar jovem|? 
Rita: Na velhice espelhos não gostam muito de me olhar, eles denunciam todas as rugas do nosso corpo, quando o telefone toca e vamos atender de supetão a coluna reclama, o pé tropeça, o fígado revira… mas sem dúvida minha cabeça prefere ser a velha sábia de hoje do que a jovem burrinha de ontem.
 
CP: A visão da infância muda com a idade? Quais as diferenças de olhares sobre sua neta e de quando seu filho tinha  a mesma idade?
Rita: Cada vez mais chego a conclusão de que minha infância foi o melhor período da minha vida. Nunca acompanhei o crescimento de uma menina, percebo que Ziza é vaidosa sem ser bestinha, é teimosa sem ser pestinha, é inteligente sem ser geniazinha. Já tive minha cota de cuecas, hoje só quero calcinhas.
 
CP: Em eleições, você escolhe um candidato, anula ou deixa em branco? o que fará na próxima?
Rita: Enquanto o voto for obrigatório nada vai mudar, dessa vez nem pretendo sair de casa
 
CP: A vida é encantadora, mas os humanos desencantam. Sim, não? Onde encontras motivos para todos dias?
Rita: Gosto bem mais de bichos, plantas e minerais. Humanos decepcionam, são falsos, destrutivos e cheiram mal.
 
CP: Em sua biografia no site, diz: |Rita Lee nasceu em São Paulo no dia 31 de dezembro de 1947, sob o signo de Capricórnio, ascendente em Aquário e lua em Virgem|. Qual sua relação com a astrologia?
Rita: Roberto lê mapas muito bem, estudou astrologia cabalística na Inglaterra, passou um tempão lá enquanto eu fazia a turnê do bossa and roll. Meus conhecimentos são de horóscopos de jornal e olhe lá.
 
[fotos Leandro Cabral]