Margens do Guaíba em lixo
Montanhas de entulho se formam na Orla
Montanhas de entulho formado por tijolos, cimento, lajotas, pedaços de
móveis e pneus, por exemplo, estão se acumulando na orla do Guaíba, bem
junto à faixa onde a água alcança a areia. Um dos pontos está a menos de
200 metros do Centro Administrativo do Estado, nas proximidades do
anfiteatro Pôr do Sol e do estacionamento do Acampamento Farroupilha,
amontoados muito próximos às margens. Em outro ponto, entre as águas e a
avenida em frente à pista de skate do parque Marinha, forma-se um
cobertor de entulho. Além disso, lixo doméstico é trazido pelas águas ou
até jogado por quem passa.
“Presenciei várias vezes os
descartes, muitos de manhã bem cedo, perto das 5h, 6h, quando venho
caminhar com meu cachorro. Chegam caçambas médias, até carros, mesmo que
pequenos, mas com carroceria. Muitos dos que fazem frete”, afirma o
funcionário público municipal Estevão Telles Ferreira, morador há 16
anos do bairro Menino Deus. “Esse lixo foi produzido em casa,
apartamento, construção, terreno. As pessoas pagam o carreto para se
livrarem do lixo e não se preocupam em saber onde será largado. Quando
chegamos para passear, o lugar de lazer está cheio de lixo”, critica
Estevão Ferreira.
Próximo ao Centro Administrativo, moradores de
rua e catadores contam que as novas montanhas – nesta semana – se
formaram há pouco, mas que o descarte irregular ali é praxe. “É só parar
aqui um tempo que você faz o flagrante”, dizem. “Fora isso, vemos muito
bicho morto pelas beiras. Quem limpa essas margens precisa usar um
calçado reforçado. É fácil de se machucar e se contaminar”, comenta um
dos catadores.
Segundo a Secretaria Municipal do Meio Ambiente
(Smam), responsável pela fiscalização, o descarte irregular de resíduos
na orla do Guaíba tem se mostrado um problema constante. “Esse tipo de
prática é agravado por empresas que levam contêineres de resíduos de
construção para descartar na orla. Tal ato constitui-se em crime
ambiental”, afirma o órgão, que ainda esclarece: para que o fiscal possa
notificar e aplicar auto de infração, é preciso flagrante. Por isso,
diz a Smam, é fundamental a colaboração da população, que deve denunciar
pelo 156.
[*foto André Ávila]
Como espalhar armas letais
Largar lixo em lugar inadequado ou não se preocupar onde o resíduo é
depositado, seja material de construção, pneu, sacolinha de
supermercado, copo plástico ou garrafa PET, é como espalhar venenos e
armas letais pelas terras e águas, conforme o professor da Faculdade de
Engenharia da PUCRS Claudio Frankenberg.
No caso do resíduo de
construção civil depositado na beira do rio, mata-se aquele matinho mais
baixo, que é a mata ciliar, essencial para o ciclo de vida de animais
aquáticos e curso do rio. Além disso, esse lixo pesado levado para o
Guaíba por marés altas e ventos interfere no fluxo de água. Peixes e
outros seres da água terão que migrar, mesmo que lentamente, e no novo
espaços serão presas extras ou serão predadores a mais. Produz-se morte e
desarmonia até novos convívios se estabelecerem, e o ambiente natural
fica perdido.
No caso de lixo doméstico, itens como sacolinhas
plásticas ou tampinhas de garrafa são como comprimidos da morte para
peixes, tartarugas, golfinhos e outros seres das águas. Veem o resíduo
boiando e comem. Conforme Frankenberg, o volume de mortes de seres
d”água por contaminação sólida pode ser muito pior que por produto
químico. “O produto químico pode ser processado pelo organismo do peixe
se não for muito concentrado.”
[foto Tarsila Pereira]
Gerador é o responsabilizado
A multa e as condenações por depósito de lixo em local irregular recai
sobre o gerador, e não necessariamente sobre quem transporta o material,
alerta o supervisor de operações do Departamento Municipal de Limpeza
Urbana (DMLU), Adelino Lopes Neto. “Não custa nada, se a pessoa não
quiser ou puder pagar um tele-entulho, por exemplo, que se certifique
que o fretista levará o material a um lugar propício para o
recebimento”, indica Lopes Neto.
Segundo ele, o descarte
irregular de lixo é o maior problema que o órgão e o meio ambiente
enfrentam. Dados do DMLU indicam que 500 mil toneladas de entulhos são
recolhidos em focos irregulares todos dias na Capital.
O
supervisor explica que, a partir das denúncias pelo 156, os fiscais
entram em contato com quem largou o material, pela descrição, nomes,
placas e telefones, vão até o local, avaliam o lixo em busca de provas
quanto à sua origem e autuam a infração de acordo com as apurações.
Lopes
Neto esclarece que o órgão está ampliando os pontos de recebimentos
chamados Destino Certo. Até agora localizados em quatro pontos
geográficos estratégicos, eles serão ampliados para 16 pontos e
receberão layout com logotipo e suportes maiores para ficarem fáceis de
identificar. Nesses pontos, qualquer pessoa pode depositar legalmente
até meio metro cúbico de resíduo de construção, restos de reforma,
móveis e afins.
Segundo Lopes Neto, existem hoje três áreas: na
avenida tronco, da Vila Cruzeiro; na Carvalho de Freitas, em
Teresópolis, perto do presídio Madre Pelletier; e na Diário de Notícias.
Nesta semana, será criado um ponto desse tipo na zona Norte, nas
proximidades do Porto Seco. O supervisor indica o site do DMLU
(http://www2.portoalegre.rs.gov.br/dmlu) como fonte para os endereços
completos, assim como pontos onde deixar equipamentos eletrônicos e óleo
doméstico.