
Aula de música popular erudita
A experiência de apreender uma intimidade maior tanto com a música de orquestra quanto com o nobre espaço cultural
Theatro São Pedro, ambos emoldurados como itens de alta cultura, foi vivida por pelo menos 500 crianças de escolas públicas e particulares do Ensino Fundamental nesta terça-feira. Elas participam do projeto Concertos Banrisul para a Juventude, criado há 12 anos e já vivenciado por mais de 55 mil alunos, sob a realização da Orquestra de Câmara do Theatro São Pedro, em Porto Alegre.
Os pequenos estudantes chegam em filas, com olhos tão brilhantes quanto atentos que circundam a arquitetura, o mezanino, teto, tapete vermelho, cadeiras, lustres. Entram no teatro – a maioria, pela primeira vez. “É muito lindo mesmo né?”, comenta Henrisson, de 13 anos, aluno da Escola Municipal Ensino Fundamental Alberto Pasqualini, de Viamão, ao lado dos colegas Luciano,
de 12 anos, e Alejandro, 11. Uma orquestra, para eles, assim como o teatro, fazem parte do desconhecido.
Mas o concerto comandado pelo Maestro Antônio Borges-Cunha, de forma leve e didática, vai criando um tal ambiente de conforto entre os visitantes, o lugar, a música, que o estranhamento se dilui. O fazer da orquestra, a música dita erudita e as melodias que os artistas proporcionam são apresentados àquele público de uma forma recheada por histórias, comentários e muito bom humor.
O maestro vai explicando o lugar, como funciona o concerto, os sons dos instrumentos, mostra exemplos, conta as histórias das músicas. De início, ensina o que é o programa que os pequenos tem nas mãos. Antes de tocar qualquer coisa, pede para acender as luzes de todo teatro e destaca a decoração das paredes e teto. “Pra gente ver como é bonito mesmo o Theatro São Pedro, né? A pinturas…. É isso aí”, apresenta o maestro.
Do meio do espetáculo em diante participa até o personagem cão Miranda, um boneco que vai dialogar com o maestro. No repertório, os ícones da música européia Mozart, Vivaldi e Bach e outros da música brasileira: Carlos Gomes, Vila Lobos, Guerra Peixe e Chico Buarque. “É um trabalho não planejado. Ás vezes tem a apresentação dessa maneira dos instrumentos e formação, às vezes os caminhos para segurar o interesse daquele público são outros. A ideia é mostrar que o som orquestral também é música popular, é feito para pessoas, é de todos”. Conforme o Borges-Cunha o mais interessante no projeto é ele ser um trabalho continuado. “A motivação criada é tal que muitos alunos vem mais de uma vez e acabam tendo vontade de serem músicos. Recebo desenhos de
instrumentos, caricaturas do maestro, isso vale”, diz.
A fila organizada do início se torna uma festa a ritmo de orquestra na saída. Todos partem cantando junto com os músicos a popular música “Fico Assim Sem Você”, de Claudinho e Bochecha gravada por Adriana Calcanhotto. Conforme a professora Maysa Spagnollo, da EEEF Senador Pasqualini, tardes assim servem para os alunos “conhecerem outras realidades e sentirem-se inseridos, integrados à sociedade. Outro dia levei eles ver “Adolescer”, amaram. Outras vezes, fizemos o trajeto do ônibus de turismo. É essencial que eles vivam esses lugares sociais”, relata.
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{por Leda Malysz para Correio do Povo, Tarsila Pereira}
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