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Entrevista Marisa Monte “Verdade, uma ilusão”

No show da turnê “Verdade, uma Ilusão”, que Marisa Monte traz a Porto Alegre de quinta a domingo, no Teatro do Sesi, a música dá a mão à arte contemporânea. Juntas, elas propõem danças e cantos com as mensagens intrínsecas do disco “O que você Quer Saber de Verdade”, lançado em 2011. “Falo de sentimentos comuns da vida contemporânea. Da necessidade de silêncio para ouvir a intuição, nos reencontrarmos, além de tanta confusão cotidiana. Da necessidade que temos de ouvir a alma. O que ela quer saber, e viver de verdade. Realmente penso que cada um de nós nasce com um talento para ser feliz. Mas que fica sufocado no meio de tanta pressa, prazos e informações que não fazem tanta diferença num mundo tão dispersivo”, conta.

“Além de minha música, vários outros artistas estão vivendo esse mesmo mundo e se associam à ideia das composições. Percepções semelhantes de artistas visuais contemporâneos retratam essa temporada. Estão ali comigo. Não são apenas belas figuras, belos vídeos. São sentimentos de uma outra pessoa associados aos meus.

São sentimentos que se completam, e poder partilhar isso com o público, junto com minha paixão pela arte deles é um prazer que me faz feliz”, diz a cantora.

No repertório, 25 canções, sete do novo álbum. Ela começa com “Blanco”, dela, Octavio Paz e Haroldo de Campos e “O Que Você Quer Saber de Verdade”, dela, Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes. “Nós três somos amigos. Me sinto completamente a vontade. Compomos
juntos como quem joga baralho, troca figurinhas”, relata. No decorrer, aparecem músicas como “ECT”, dela, Nando Reis e Carinhos Brown, gravada por Cassia Eller, “Beija Eu”, dela com Arnaldo Antunes e Arto Lindsay, “Amor I Love You” e “Velha Infância”.

O show começou a tomar corpo em dezembro. Marisa cuidou de toda pré-produção: dos projetos, reuniões de conceito, curadoria de arte – contou com a amiga curadora Luisa Duarte – e outras tarefas de produção feitas com uma organização de quem tem muita experiência somada em matéria de shows e turnês. “Consegui fazer com planejamento. Novamente chamei Claudio Torres e
Leonardo Neto. São meus olhos fora do palco. Não queria painéis de LED, busquei recursos mais poéticos. O projetor tem um diálogo maior com o conteúdo emocional”, conta.

Durante três semanas eles fizeram o show diariamente em um teatro fechado no Rio de Janeiro, para uma plateia de 15, 20 pessoas cada dia, todos envolvidos com o espetáculo. No espetáculo para o público “que dá a dinâmica e alimenta as nossas próprias realizações”, num palco com leves cortinas entre ela, músicos e às vezes plateia, um cenário com projeções de obras como “Tentativa de Levar uma Boia Rosa Até o Horizonte” (2009), de Guilherme Peters, em “O que se Quer”; “High Definition” (2010), de Luiz Zerbini em “Descalço no Parque” ou “Amar é simples Amar é complexo” (2011), de Marcos Chaves, em “Amar Alguém”, além de outras.

A turnê marca a volta de Marisa aos palcos em projeto solo próprio depois de três anos e meio. Ela estará acompanhada de Dengue (baixo), Pupillo (bateria) e Lucio Maia (guitarra), Dadi (guitarra), Carlos Trilha (teclados) e um quarteto de cordas. Nesse meio tempo produziu “O Mistério do Samba”, documentário sobre a Velha Guarda da Portela, dirigido por Carolina Jabour e Lula Buarque de Hollanda, participou de shows, teve outro neném, Helena, hoje com três anos – além dela ela tem Mano Wladimir, de 9 anos – e preparou o “O que Você Quer Saber de Verdade”, que ficou pronto em maio do ano passado. Depois disso cuidou do site, divulgação e
partiu para a concepção da turnê. “Sou uma artista de palco, quem acompanha minha carreira percebe que ali me realizo”, afirma.

Sua realização de agora demonstra uma Marisa madura, que quer desfrutar ao máximo o tempo que lhe resta. “Não está mais na hora de experimentar. Mas de ser seletiva e escolher ao máximo para aproveitar os melhores sabores da vida. Essa busca pelo viver melhor é individual. O que você quer saber de verdade é uma verdade íntima”, revela.

Extremamente feminina em suas canções, ela segue em sintonia com as mulheres. “Sou canceriana, maezona. Digo assuntos que elas nem sempre falam e ali podem cantar comigo, se conectar com esse sentimento traduzido”. Para Marisa, essa sinceridade, conexão e expressão de sua essência é o motivo de estar ali. “Com a Velha Guarda da Portela aprendi muito. Eram guardadores de carro, consertadores de geladeira. Gravavam seus discos por uma necessidade da alma se expressar. Aprendi com eles que é isso que me interessa. Existe uma coisa que precisa ser externada. Uma dor de cotovelo, quando vira composição, é um sentimento que você elabora. Essa criação faz você se sentir melhor e ganha uma concretude que te ajuda a viver e a outros, sentir. Esse é o princípio de onde as coisas começam. Há de se ouvir o coração e ouvir a alma. A gente sabe os caminhos, basta dar atenção a eles, e seguir.”

[Foto divulgação]