Escravos contemporâneos no RS
.
O trabalho escravo existe no Rio Grande do
Sul e carrega características de um Brasil colonial escravocrata. Assim
como em outros estados, aqui eles lidam com atividades primárias, como
colheita de batata e feijão ou extração de pinus e acácia. Pelo Brasil, a
Lista Suja também mostra escravos intimamente ligados a atividades
rurais como criação de bovinos ou no cultivo de cana-de-açúcar.
“No
interior do país não há grandes ofertas de emprego. Eles
trabalham no que aparece. São amealhados pela figura do gato, a pessoa
que vai buscar empregados na cidade. A forma de contratação é a mais
diversa possível, mas eles acabam colocados em locais de difícil acesso e
ficam dependentes do contratante para tudo. Uma coisa muito palpável
nos resgates é constatar que eles dependem do chefe para sair dali”,
conta Inez Rospide, coordenadora da fiscalização do trabalho rural no
Rio Grande do Sul, pela Superintendência Regional do Trabalho e Emprego
do Ministério do Trabalho.
De maio de 2005 até o final de 2011, o
Estado resgatou 145 pessoas do trabalho escravo. Entre as histórias,
casos de trabalhadores em extração de madeira para fabricação de
dormentes, da extração de tanino das acácias, plantação de melancias, ou
batatas, em cenários semelhantes.
São pessoas que dormem em
acampamentos de lonas, usam a água de um córrego próximo, fazem as
necessidades básicas no “matinho”. Grande maioria cumpre jornadas de
trabalho de sol a sol. A comida fica numa sacolinha na árvore. Esses
trabalhadores devem o que usam, não têm sábado nem domingo livres.
.
Promover uma mudança de cultura por parte de
trabalhadores e empregadores rurais é um dos grandes desafios no
combate à escravidão. Segundo a fiscal Inez Rospide, muitos
trabalhadores se sujeitam a tantas horas de serviço e tais condições
porque foi assim com o pai dele, será assim com ele e pode ser com o
filho. Eles precisam sobreviver, e o trabalho é a garantia. No Interior,
trabalhar por dia é natural para muitos. E quem “dá” o trabalho já faz
bastante, em tal concepção. “É importante que o trabalhador reconheça
sua importância. Que o patrão necessita que sua produção seja cortada,
semeada, trabalhada para ter lucros com isso, proporcionados pelo
trabalho. O patrão precisa desenvolver o respeito ao trabalho do outro
assim como respeita o seu. E pagar e garantir os direitos a esse
contratado, assim como devemos fazer com as empregadas domésticas”,
destaca. No RS, diferentemente de outros estados, o trabalho escravo vem
sendo encontrado em médias propriedades. “Grandes empresas querem o
certificado de que não se utilizam de trabalho escravo. No Estado, isso
vem acontecendo de forma mais individual.”
.
Alguns acham situação natural
A maioria dos resgatados no Rio Grande do
Sul da escravidão são trabalhadores trazidos de Goiás ou São Paulo, mas
há gaúchos que aceitam tais jornadas degradantes. “São pessoas muito
simples. Algumas chegam a achar natural passar por isso em troca de um
emprego. Vão ficando um mês, dois meses. Às vezes se libertam, mas
acabam em outro trabalho semelhante”, comenta Inez Rospide, coordenadora
da fiscalização do trabalho rural no Rio Grande do Sul.
Recolocação é um desafio
Para a fiscal Inez Rospide, o desafio é
enfrentar a recolocação desses trabalhadores. “No resgate, garantimos o
pagamento dos direitos trabalhistas, a passagem de volta pra casa e o
encaminhamento de três meses de seguro-desemprego. No entanto, alguns
voltam a ser encontrados em trabalho escravo”, diz. Em sua avaliação,
mesmo assim, o Rio Grande do Sul é um dos estados com índices de
escravidão mais raros, o oposto do Pará.
[imagem baixada do site www.trabalhoescravo.org.br]
