
Adriana Calcanhoto: show e entrevista

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eu vivo a sorrir, eu vivo a sorrir
pro caso de você virar a esquina
e adentrar a livraria
pro casi de o acaso estar num bom dia
pro caso de o destino me haver reservado a alegria
e o meu fado estar fadado a ser a sua sina
Figura tarimbada no Porto Alegre Em Cena, evento que participa desde a primeira edição, Adriana Calcanhotto chega desta vez em Porto Alegre para lançar o primeiro álbum de sua carreira só com canções dela, em três shows no Theatro São Pedro, às 21h, nesta segunda, terça e quarta-feira*. Em “O Micróbio do Samba”, com título inspirado em Lupicínio Rodrigues, Adriana canta a voz da mulher no samba, com cadência de quem não se engana com malandro e é dona de um feminino nada frágil ou ingênuo.
No show, o quarteto completado por Davi Moraes (violão), Domenico Lancellotti (bateria) e Alberto Continentino (contrabaixo), ocupa um palco sem cenário, “sem nada”, adianta Adriana, que comenta: fora o repertório do disco, estarão “Dos Prazeres das Canções” (Péricles Cavalcanti), “Esses Moços” (Lupicínio Rodrigues) e “Argumento” (Paulinho da Viola).
A novidade do show é justamente essa. Ao invés de acrescentar canções suas em propostas de interpretações, agora Adriana se mostra a cada canção e os outros compositores é que visitam – e só no show. Samba em parceria no disco apenas “Vem ver”, música do Dadi e letra dela, o resto, escreveu sozinha. Das 12 faixas, duas já conhecidas: “Beijo Sem”, feita para Marisa Monte, recém gravada por Tereza Cristina, e “Vai Saber”, cantada por Marisa. O disco nasceu por acaso. “Nunca imaginei que faria um álbum de gênero
único e muito menos um projeto só de canções minhas, mas aconteceu, e de forma muito simples e espontânea”, diz ela, que conta: “primeiro senti vontade de registrar os sambas que tinha composto, para organização interna da minha editora, Gravaria para guardar num CD com uma etiqueta do tipo “os sambas”. Depois foi que resolvi partilhar o registro e lançar como álbum. Acho que foi quando apareceu o nome, “O Micróbio do Samba”. Ficou irresistível”.
O título diz muito sobre o álbum. Se ‘micróbio do samba’ era um expressão pejorativa para mulheres no anos 30 e servia de coroa para os homens, agora Adriana festeja seu micróbio. Nas letras, uma mulher de riso no rosto, livre e amorosa. Pelos versos, canta “homem que ama pensa que sabe lhe mentir; promete amor eterno até quarta-feira para quem anda tão chique, tão cheia de ‘se’; ou deixa a geladeira cheia sem promessa de volta e vai passar uns tempos na Mangueira. “Saiu assim, mas vejo que fez bem à autoestima feminina, tenho percebido isso nos shows, uma cumplicidade, uma gratidão. Mas não pensei sobre nada disso quando compus, claro. Fui fazendo um samba aqui outro lá, e só quando gravei foi que tive noção de conjunto”, comenta a cantora, para quem samba não é gênero mas “superação, resistência e permeabilidade, música de preto, música do Brasil, invenção”.
A turnê passou pela Itália, Portugal, Slovênia, Argentina, Alemanha, Holanda e no Brasil, Salvador, Natal, Belo Horizonte. Depois segue para o Rio, São Paulo e o interior. Em novembro eles vão ao Japão. “A ideia é contaminar o mundo!” conta.
[texto de novembro de 2011. Foto Pedro Arruda. Divulgação]

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AC: Percebo as intenções de leveza e balanço das levadas, mais que tudo, mas o tema é o próprio samba, e seus amantes. Eu acho.
AC: Diferente, na forma de compor, de gravar, e de decidir lançar. Mas meus discos são mesmo muito diferentes uns dos outros. Acredito que o inesperado da situação, o fato de não haver planejamento e com isso tensão e expectativas, fez com que todo o processo de gravação tenha sido muito relaxado e feliz.

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