
Milton Nascimento e a gente sonhando
Na tarde anterior ao show, Milton desmarcou todas entrevistas porque estava precisando descansar da viagem no mesmo dia. Presenciar sua voz já foi privilégio, mais ainda foi ver parte do meu texto integrado aos releases de divulgação da turnê. uma honra.

Presenciar Milton Nascimento e todos os músicos que integram show do álbum “… E a Gente Sonhando” é experimentar flashes de uma busca que vai dar no sol. A viagem proporcionada pela atuação dos músicos e de Milton, somada ao repertório iluminador, não é de palavras, mas de universos que elevam – e acalmam – a alma. Ao subir no palco do Bourbon Country, ontem*, em Porto Alegre, em comemoração ao aniversário da cidade, Milton iniciou a noite com “Encontros e Despedidas”, seguido de “Cachangá” e “Caçador de Mim”. Nos versos “Longe se vai/ Sonhando Demais/ Mas onde se chega assim/ vou descobrir/ o que me faz sentir/ eu, caçador de mim”, e na constante melodia indiscritível e cheia de boas surpresas, Milton iniciou a busca, e levou toda a platéia pelo seu caminho de abrir corações.
O CD, lançado ano passado, foi criado por Milton depois dele ter visto Três Pontas marcada em livro de uma empresa aérea feito por dois especialistas que vieram estudar o que se fazia de música no país. A única cidade que não era capital e estava destacada era Três Pontas. “Fiquei me sentindo numa boa. Tudo se transformou nisso e isso vem transformando tudo”, conta. Milton fez uma viagem a sua cidade, para ver como estava a música por lá. Reuniu cerca de 25 jovens músicos do local e criou o álbum. O resultado justifica e coroa Três Pontas no mapa da música. Além de juntar cantores e instrumentisas, Milton apadrinha novos compositores e vozes, como de Bruno Cabral, 19 anos, Ismael Tiso Jr., de 24 e Paulo Franscisco. Gravou, dos meninos de Três Pontas, “Olhos do Mundo” , de Marco Elízeo e Heitor Branquinho, “Eu, Pescador” de Clayton Prosperi e Haroldo Jr) e “Do Samba, do Jazz, do Menino e do Bueiro”, de Ismael Tiso Jr/Miller Rabello de Brito.
Depois de “Baile da Vida” é que esses meninos começam a ocupar o palco. Paulo Francisco entra para acompanhar Milton em “Amor do Céu Amor do Mar”, nova composição feita em parceria com Flávio Henrique que homenageia Elis Regina, a grande intérprete e amiga de Milton. O coro de vozes entra no palco, e todo o trabalho coletivo ganha forma. Na canção seguinte “Sol”, de Jota Quest as os versos “Pra onde tenha sol/ É pra lá que eu vou” cantados ali apontam o destino.

Com tantas canções fortes e inspiradoras, “… E a Gente Sonhando” tem composições preciosas e valiosas como “Resposta ao Tempo” e “Estrela, Estrela”, de Vitor Ramil. Duas músicas conhecidas, mas que na voz e encaminhamentos de Milton ganham uma dimensão sublime. “Resposta ao Tempo”, de Cristóvão Bastos e Aldir Blanc chegou quase no final do show, e segundo Milton, foi uma especial escolha entre todo o repertório. Passando por canções como “Me Faz Bem” e “Espelho de Nós”, o show tem muito de “Ateneu”: “Para derrubar os muros. Cantar a vida. Sonhar o mundo. Abrir os corações”.
Com mais de duas horas de show, Milton Nascimento deixou “Canção para América” para o bis, e deixou todos com “Maria Maria” e os hinos “Mas é preciso ter manha/ É preciso ter graça/ É preciso ter sonho, sempre/ Quem traz na pele essa marca/ Possui a estranha mania/ De ter fé na vida”. Com orgulho de ser humano, poder amar tanto e feliz de estar vivo, os que querem resistir saíram da platéia revigorados. E a gente continua sonhando.
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[Leda: para mim que não pude ir, te ler foi quase como se tivesse ido. Pude ver o que tu sentiste, é realmente bom saber que tudo isso existe. Em vez de agradecer ao Milton – haverá outra oportunidade – agradeço por teu olhar. Abraços, Tito José* (das cartas de redação que guardo no bolso)
…{fotografias de bruno alencastro. *texto março de 2011}

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