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Maria Rita canta Elis Regina no Pôr do Sol

          Com uma emoção claramente sentida e contida diante de um mar de gente esparramado em frente ao anfiteatro Pôr do Sol – 60 mil pessoas, conforme a organização, Maria Rita iniciou no final da tarde deste sábado a homenagem à sua mãe com o primeiro show da turnê “Viva Elis”, que segue para Recife (1 de abril), Belo Horizonte (8), São Paulo, (22) e Rio de Janeiro (29 de abril).

         Pela primeira vez em sua carreira de nove anos ela canta músicas eternizadas pela mãe, e em Porto Alegre, o clima é especial. Diante de tanta gente e recepção calorosa do público, ela olha em frente, segura o nó na garganta, e inicia o passeio pelas canções de Elis com os versos de “Imagem” (É de vocês o meu cantar/ É só pra vocês nosso cantar/ Enquanto a nossa meta não for atingida/ Continuamos gritando o nosso canto/ Enquanto nossa música não voltar ao que é/ Nós lutamos, faz escuro mas nós cantamos”).Vestindo um macacão branco que acompanha o corpo, com uma leve e longa capa-manga que tirou já nas primeiras músicas, Maria Rita passa pelo “Arrastão” e entoa “Como Nossos Pais”, que o público todo acompanha com palmas e vozes.

         De boas vindas, um “muitissimo obrigado pela presença de cada um de vocês que estão aqui, e que tanto esperavam, assim como eu, por isso. Estar diante desse grande público na cidade de minha mãe é uma emoção que não consigo…”, sorri, segura a emoção e ganha muito mais aplausos. Em seguida, traz “Vida de Bailarina”, com os versos “Vão falando sem saber/ Que ela é forçada a enganar/ Não vivendo pra dançar/ Mas dançando pra viver”, bem de acordo com suas declarações de que seu cantar é uma necessidade e razão de vida assim como o cantar de sua mãe, e segue com “Bolero de Satã” e “Águas de Março”, com direiro a bolhinhas de sabão pela plateia.

         Em meio às canções, o final de tarde laranja do Guaíba, e uma fina meia lua colada no rio.Em seus dizeres e posturas, Maria Rita tomava pra si, como filha, todo o direito de homenagear sua mãe cantando, mesmo que ela seja a grandiosa Elis Regina.

         Com admiração e orgulho expostos, ela fala “de minha mãe”, “mamãe”, e mostra essa sua mãe para todos, revivendo assim, exemplos e dizeres. “Como todos sabem, perdi mamãe aos 4 anos. Muita gente questiona sobre como será que seriam nossas conversas, seus conselhos, suas broncas. Não sei, mas em algumas canções encontro essa mulher amiga de todos, e a mãe amiga minha. Vejo seu universo feminino. Agora, como mulher, o entendo, identifico e canto”, disse, antes de começar “Essa Mulher”. Momentos antes, após cantar “Bêbado e a Equilibrista”, Maria Rita reverencia novamente a força de sua mãe: “Era um tempo de fim de ditadura, e minha mãe sempre foi muito envolvida na luta pelos direitos de todos, pelos direitos civis”. Recebe um mar de aplausos, aplaude junto a memória com o público agradecendo Elis! Elis! , e segue: “mamãe acreditava que o artista, por ter esse canal, tem obrigação de se envolver. Ela lutou incansavelmente pelos direitos de seus companheiros. O mínimo que se pode fazer, agora, é honrar a lembrança daqueles que tanto fizeram pela nossa liberdade. Simplesmente falar”, disse a filha de Elis.

         Outro momento de reverência foi antes de cantar as composições de Milton Nascimento – “Morro Velho”, “O Que Foi Feito” e “Maria Maria”: “Essa é outra herança, a amizade e respeito a Milton. minha mãe dizia que se Deus tivesse voz, seria a dele. E ele diz que faz suas canções pensando na voz dela”. Acompanhada no palco por Thiago Costa no piano e teclado, Sylvinho Mazzuca no baixo, David Moraes na guitarra e Cuca Teixeira na bateria, Maria Rita volta com “Fascinação”, “Romaria”, “Madalena” e “Redecobrir”.

{Texto publicado com edição no Correio do Povo e no site do CP em 26 de março de 2012. Foto Tarsila Pereira}
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